No dia 24 de agosto nasceu Walter Lima Brandão. Filho de Tia Quita e Tio Wolfgango

(minha mãe acredita que Tia Quita era da familia Salgado de São Bento de Sapucaí e que seu nome era Virginia). Tornou-se ao crescer no "Dr. Walter Brandão" ou Waltão para todos.
Achava muito estranho alguém chamar médico de Waltão e me recordo que sempre ficava em dúvida se deveria chamá-lo tio, primo, Waltão, ou de Dr e acabava chamando de tio Waltão. Recordo-me de se referir a mim sempre como a Waninha, filha da Waldete.
Esse homem, independente do lado humanitário era um verdadeiro ídolo para seus primos, em especial suas primas. Ouvi médicos elogiando a curetagem que minha mãe fez com ele como se fosse uma obra de arte tal qual Monalisa de da Vinci.
É muito interessante perceber que um primo tornou-se médico e que todos confiavam nele como tal, sem vergonha, inibições ou coisas do genero tão complicadas e típicas das décadas de 1950-60. Confiava-se nele como primeira e última palavra nos quesitos relacionados a saúde. Todos, sem exceção devem ter um caso ou outro para relatar a respeito desse grande Homem.
Um feito extraordinário de sua parte foi quando meu irmão André resolveu obedecer os primos mais velhos e literalmente cutucar o burro com a vara curta. Além de voar como um saco de batatas - não sei se passou a cerca do curral ou bateu nela e caiu -, sua boca rasgou de tal forma que para variar um dos grandes
pampeiros armados na fazenda deu inicio.
Meu avó ficou muito bravo e ao mesmo tempo em que agradecia aos Céus o fato de meu irmão estar tão próximo do burro, zangava-se com quem deixou o burro ali, com quem tinha dado a idéia, com meu irmão que era danado, etc e tal. Afirmava categoricamente que aquele burro era um perigo pois dava coice até na sombra ao mesmo tempo enquanto dizia que ainda bem que não estava ferrado.
Olhando a distância lembro-me que era um tal de gente grande falar ao mesmo tempo tomando decisões, uns obedecendo outros não que até hoje tenho uma sensação de ter me tornado invisível pois ninguém me deixava ver a boca de meu irmão. Era como se eu não estivesse ao lado daquela gente enlouquecida dizendo coisas como:
E agora? Acho que precisa levar para cidade... ao que meu pai disse: É claro tem...
E lá foram minha mãe, meu pai e meu irmão enquanto meu avô diza "dá na mão do Waltão... E o resto (resto eramos nós) senta a bunda e fica quieto". Era sempre assim: um fazia qualquer coisa e o resto tinha de ficar com a bunda em algum lugar e ficar quieto até a zanga passar.
É tempo de dizer que nosso avô era homem de iniciativa, não tenham dúvida quanto a isso. Mas se havia uma coisa que não fazia era pegar um veiculo e ir para cidade rapidamente. Não é que não soubesse dirigir, sabia sim. Tinha, inclusive, um Jeep. O problema é que só sabia ir para frente. Quando precisava dar ré chamava alguém para por aquele "negocio de cara pra lá". Acredito que se o tal negócio estivesse de cara para o lado certo, ele mesmo teria levado meu irmão para o Waltão.

E o Waltão fez um serviço tão bem feito em meu irmão que nem marca deixou. Foram nove pontos dignos dos bordados da Ilha da Madeira.
Ao ler esse episódio para minha mãe ela me disse: Quando você era pequena tentou pegar a Walkiria no colo e a derrubou no chão. Sai desembestada pelo beco e ao chegar no Walter ele estava acabando de se recostar num sofá após um parto difícil e cheguei desesperada com a Walkiria. enquanto falava pela boca e pelos cotovelos o que tinha acontecido; deu uma olhada e disse: Dê duas gostas de Coramina que já já estará boa. Foi um susto danado mas graças a Deus deu tudo certo, terminou ela.
Subi a escada pensando e eu? Tenho de registrar mais esse episódio no caderno de culpas...
Duas coisas estão registradas em minha memória em relação ao tio Waltão: Gostava de deitar no chão e tinha uma camionete maravilhosa. E só isso já bastaria para tê-lo registrado no coração.