Às vezes me bate uma saudade tão grande, tão intensa do que vivemos lá atrás. Não saudade do tempo que já passou não; é saudade da experiência vivida, tal e qual aconteceu. Experiências que contribuíram e muito para minha formação como pessoa, como ser humano que gosta de ajudar e que muitas vezes se torna desagradável na insistência.
Essa desgraça toda que esta acontecendo no vale do Capivari, no Vale do Paraíba, em Angra (Não há aqui nenhuma desconsideração com o pessoal que lá esta sofrendo tanto hoje, pelo amor de Deus. Tive a Graça de não viver isso, mas posso avaliar o quanto esta sendo sofrido para todos. Acreditem todo o nosso clã esta ao lado de vocês) e em tantos locais familiares para mim repentinamente me mostrou algo que já havia pensado anteriormente, mas não da forma como agora estou vendo: O barro!
O barro foi uma argamassa que nos ajudou muito. Nos ajudou na união, nos ajudou a compartilhar risos e lagrimas(desculpem o clichê), pois em determinados momentos, quando verificávamos que estávamos no atoleiro mais uma vez e que era necessária uma ação grupal dava vontade de chorar, pois antecipávamos o que iríamos viver. Perdi a conta da quantidade de barro que já enfrentei. Havia barro mole, barro duro, pseudo barro –nas noites chuvosas- e que nos impediam de distinguir alho de bugalho, barro com pedra, sem pedra, liso feito quiabo o que gerava risadas gloriosas e um dos mais temidos barrão vermelho e água bem na subida de um dos morros. Eita nós!
Dá ré, Wania. Mais, mais, mais. Agora vá com tudo e não para! E se por acaso o carro deixava a desejar naquela valsa no meio do morro lá vinha o berro: Não força, para. Espera a gente chegar. Vamos pensar. Pensávamos tanto que poderíamos fazer um tratado.
Corta o capim aí na beira, ô fulano... Tem jornal no carro? Mas que m...! Outra vez deixamos pra trás? Não acredito...Havia alguns que eram um pouco sem ´pacença`, como diria o Waltinho, e respondia a famosa questão: Como vou cortar? com um bem claro: Com os dentes, ara!
Tudo bem! Vamos lá. Fulana você senta na frente do carro, consegue se segurar? E vc também só que é do outro lado; quando o carro começar a sair vê se consegue fazer a frente balançar. E alguém gritava: São crianças... e outro respondia: de 14 anos. Vamos lá pessoal vamos empurrar daqui. Wania pisa devagar em segunda, certo? Certo. Um, dois, três, JÁÁ! E em uníssono conseguíamos muitas vezes desatolar ou andar só um tiquinho para mudar a estratégia.
O mais engraçado é que sempre havia um que ficava bem atrás da roda traseira e acabava indignado comigo, com o carro, com a vida, com a viagem, com quem teve a idéia de ir pra roça, e por aí vai... B...! Olha só minha camiseta (ou camisa) Pô! estava limpinha. Só mais tarde iria perceber que a sobrancelha, o ouvido, a testa também estariam imundas.
Engraçado como várias frases surgem com uma clareza medonha em minha cabeça. Coisas como: Paraaa perdi o sapato. Enquanto alguns exclamavam: Sapato? Ou: Ei pessoal, me ajude, atolei. E aquela de sempre: Alguém viu minha carteira? Também não esqueço as criticas a quem era um tanto fora de esquadro no momento: Sai daí, jacu. Daqui pouco o carro esbarra ´nocê` tantã, e já tô vendo tudo, vai parar lá na casa da tia Susana.
Como tenho saudade. Não havia diferença de idade, de gênero, todos éramos responsáveis por tirar o carro dali. E, todos juntos, não só conseguíamos tirar o carro dali, mas como também após o banho gostoso, juntos comíamos o mexido de farinha de milho com ovos da Rosa com café e percebíamos que apenas teríamos força para rir de alguma coisa e dormir o sono dos justos.
Era bom demais!