Parentes queridos parentes

O que são parentes? Como surgem? São importantes? O que nos acrescentam? É sobre essas questões que me proponho a pensar e falar mais do que qualquer coisa. Não que outras coisas não sejam importantes.

25 de mai. de 2011

Hoje faz 6 anos que tia Waldeneuza faleceu

Sim, eu sei que muitos dos meus tios fazem atualmente mais aniversários de falecimento do que de vida. O que se há de fazer? Perguntinha besta, essa...

Sinto falta, sinto saudade, sinto uma carência que não irá aplacar nunca. E hoje decidi que queria falar dessa minha tia que me faz tanta falta.

Não tenho o menor interesse em saber como ela foi como esposa, como mulher ou como mãe, pois sei como foi como tia. Nessa categoria não tenho queixa alguma. Ela me fazia rir muito. Mesmo em momentos de intensa dor conseguia nos fazer rir. Era muito amiga de meu pai e os dois se "zoavam" como poucas vezes vi duas pessoas fazerem entre si sem se machucar revelando um carinho incomensurável. Essa é a tia que ficou na memória.

Na ultima vez que estive em sua casa decidiu por auto recreação que iria fazer minha mala e eu, pessoa de personalidade não muito fácil, decidi que ela não iria fazer de jeito nenhum.

Ela fingia que não me ouvia e eu fingia que ela estava me convencendo para ao final e ao cabo virar de ponta cabeça a mala e dizer: eu faço a mala! Lembro-me de sua fisionomia chocada mas carinhosa largando mão de insistir com a sagitariana aqui. Depois a chamei para mostrar como ficou e ela disse: do meu jeito caberia mais coisas; ao que respondi: mas quem disse que queria levar mais coisas?

Muitas vezes discutíamos mas era sempre revelador. Muitas vezes ela me contava casos que os guardei com um carinho infinito e muitas vezes conversava com ela sobre suas dores e o quanto era difícil tolerá-las. Lembro-me em especial do dia que ela me contou que ouvia o tempo todo uma musica sacra que não parava e passado um ano após sua morte li no caderno ciência sobre a descoberta de uma doença misteriosa em que pacientes ouviam musicas normalmente de cunho religioso e até hoje acompanho essas noticias pensando que ela foi uma pioneira em muitas coisas.

As vezes, ela queixava das pessoas não acreditarem no que dizia e eu falava: não se importe pois eu acredito. Creio que graças à Deus, nunca ninguém se referiu a isso como PIRIPAQUE, palavra que abomino pois tem o dom de diminuir  o que sentimos e que normamelmente é proferida por "sábios" envoltos numa sabedoria que advém da própria ignorância. Tenho horror a essa palavra e espero de coração que minha tia querida nunca tenha tenha visto ou ouvido se referirem a ela como se fosse uma exagerada, etc. e tal.

Tia Waldeneuza me ensinou o prazer de presentear, me ensinou a contar uma boa prosa, me ensinou expressões típicas da família, me ensinou a simplicidade e espontaneidade de se tirar uma foto de alguém desconhecido para agradecer o bom atendimento. Me revelou como uma simples foto poderia fazer um padeiro, uma vendedora, uma enfermeira, um verdureiro, um garçom entre outros a se tornarem verdadeiras realezas com apenas um click que a ajudava a guardar lembranças de suas viagens e a tornar meros desconhecidos em cidadãos importantes. Isso não tem preço e serei eternamente grata a ela por tudo isso e o céu também.

A benção minha tia de onde você estiver. Daqui só sinto saudade e lembranças, boas lembranças.

4 comentários:

  1. Nestes últimos seis anos aprendi muito mais que em 50 anos seguidos da minha vida.
    Aprendi muita coisa mesmo... às vezes a ausência faz isto com a gente... faz a gente APRENDER.
    Depois que ela passou para outro plano, aprendi olhar muita coisas com outros olhos.

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  2. Que bom termos boas lembranças de nossos tios..tantos já se foram...é uma pena não podermos curtir mais mais...
    Vamos aproveitar os primos então.
    Bjs

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  3. É exatamente assim que lembro de dona Waldeneuza. Aprendi muito com ela. Era carinhosamente chamada pelas netas aqui do sul, de vódeneuza. Elas ficam atrapalhadas com o nome vó Valdeneuza e assim ficou, mesmo depois de adultas: “a vódeneuza”. Era sempre esperada com muita ansiedade pois vinha cheia de novidades e trazia notícias e contos de parentes e amigos, tal qual a vó Hilda. Era uma grande companheira. Ia a todos os lugares conosco, sem jamais reclamar do horário de volta, ou de desconfortos. Chegava e já fazia amizade com todo mundo como se já fossem velhos conhecidos.
    Essa de arrumar as malas ela sempre me convenceu e realmente não tinha ninguém que a superasse. Igualmente, arrumava uma geladeira como ninguém.... O Kleber tá igualzinho. Obrigada Wânia, por descrever tão bem essa pessoa que deixou tantas lembranças boas e tantas saudades.

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  4. Acertou, Waninha!
    Tia Waldeneuza era doce....mesmo no falar rapidinho....suas palavras eram suaves. Cigana por natureza, conseguia colocar São Paulo dentro de Paraisópolis com sobra de lugar.
    Saudades

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