Parentes queridos parentes

O que são parentes? Como surgem? São importantes? O que nos acrescentam? É sobre essas questões que me proponho a pensar e falar mais do que qualquer coisa. Não que outras coisas não sejam importantes.

4 de jan. de 2010

O barro

Às vezes me bate uma saudade tão grande, tão intensa do que vivemos lá atrás. Não saudade do tempo que já passou não; é saudade da experiência vivida, tal e qual aconteceu. Experiências que contribuíram e muito para minha formação como pessoa, como ser humano que gosta de ajudar e que muitas vezes se torna desagradável na insistência.
Essa desgraça toda que esta acontecendo no vale do Capivari, no Vale do Paraíba, em Angra (Não há aqui nenhuma desconsideração com o pessoal que lá esta sofrendo tanto hoje, pelo amor de Deus. Tive a Graça de não viver isso, mas posso avaliar o quanto esta sendo sofrido para todos. Acreditem todo o nosso clã esta ao lado de vocês) e em tantos locais familiares para mim repentinamente me mostrou algo que já havia pensado anteriormente, mas não da forma como agora estou vendo: O barro!
O barro foi uma argamassa que nos ajudou muito. Nos ajudou na união, nos ajudou a compartilhar risos e lagrimas(desculpem o clichê), pois em determinados momentos, quando verificávamos que estávamos no atoleiro mais uma vez e que era necessária uma ação grupal dava vontade de chorar, pois antecipávamos o que iríamos viver. Perdi a conta da quantidade de barro que já enfrentei. Havia barro mole, barro duro, pseudo barro –nas noites chuvosas- e que nos impediam de distinguir alho de bugalho, barro com pedra, sem pedra, liso feito quiabo o que gerava risadas gloriosas e um dos mais temidos barrão vermelho e água bem na subida de um dos morros. Eita nós!
Dá ré, Wania. Mais, mais, mais. Agora vá com tudo e não para! E se por acaso o carro deixava a desejar naquela valsa no meio do morro lá vinha o berro: Não força, para. Espera a gente chegar. Vamos pensar. Pensávamos tanto que poderíamos fazer um tratado.
Corta o capim aí na beira, ô fulano... Tem jornal no carro? Mas que m...! Outra vez deixamos pra trás? Não acredito...Havia alguns que eram um pouco sem  ´pacença`, como diria o Waltinho, e respondia a famosa questão: Como vou cortar? com um bem claro: Com os dentes, ara!

Tudo bem! Vamos lá. Fulana você senta na frente do carro, consegue se segurar? E vc também só que é do outro lado; quando o carro começar a sair vê se consegue fazer a frente balançar. E alguém gritava: São crianças... e outro respondia: de 14 anos. Vamos lá pessoal vamos empurrar daqui. Wania pisa devagar em segunda, certo? Certo. Um, dois, três, JÁÁ! E em uníssono conseguíamos muitas vezes desatolar ou andar só um tiquinho para mudar a estratégia.
 O mais engraçado é que sempre havia um que ficava bem atrás da roda traseira e acabava indignado comigo, com o carro, com a vida, com a viagem, com quem teve a idéia de ir pra roça,  e por aí vai... B...! Olha só minha camiseta (ou camisa) Pô! estava limpinha. Só mais tarde iria perceber que a sobrancelha, o ouvido, a testa também estariam imundas.
Engraçado como várias frases surgem com uma clareza medonha em minha cabeça. Coisas como: Paraaa perdi o sapato. Enquanto alguns exclamavam: Sapato? Ou: Ei pessoal, me ajude, atolei. E aquela de sempre: Alguém viu minha carteira? Também não esqueço as criticas a quem era um tanto fora de esquadro no momento: Sai daí, jacu. Daqui pouco o carro esbarra ´nocê` tantã, e já tô vendo tudo, vai parar lá na casa da tia Susana.
Como tenho saudade. Não havia diferença de idade, de gênero, todos éramos responsáveis por tirar o carro dali. E, todos juntos, não só conseguíamos tirar o carro dali, mas como também após o banho gostoso, juntos comíamos o mexido de farinha de milho com ovos da Rosa com café e percebíamos que apenas teríamos força para rir de alguma coisa e dormir o sono dos justos.
Era bom demais!


8 comentários:

  1. Nunca ví uma facilidade tão grande para colocar uma cena no papel, como você tem!
    Alias, no papel não, na tela.
    Quem viveu isto, lendo agora este relato, pode ter a certeza de que a cena, o filme, passou inteirinho na mente. Senti até o gosto do barro na boca! A roupa toda suja... dando vontade de tomar banho!
    Ô saudade bandida, siô!
    Wania, Paulo um seguidor nosso, uma pessoa inteligentissima que tem uns tantos de blogs bons, ficou admirado da seleção musical nossa aqui do lado e ele achou entre elas a musica preferida dele. Me disse que achou o máximo!
    A musica é a "What a difference a day made", uma daquela que eu adoro ouvir quando estou na metropole! E o melhor, uma das mais bonitas para mim também.

    ResponderExcluir
  2. Saudade!
    Não é engraçado que para muitos seja motivo de terror e que para alguns seja nostalgia?
    Todos os fatos tem lados a serem observados...tristeza, alegria, encantamento, medo....
    O barro é bíblico....é metáfora...é lembrança que nos forja!
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Minhas lindinhas presentes, obrigada tanto por suas palavras, Tatinha, quanto pelas palavras tão simbólicas, Laura.
    Um beijo bem enlameado. Rsrsrs

    ResponderExcluir
  4. Wania,
    Estou aqui até cuspindo barro!!!
    Bons tempos. Temos cada história que daria um livro só de atoladas.
    Uma vez que estávamos subindo com o Alpha Romeo da Tia Olga, ela dirigindo, eu, a Fla e a Ju empurrando e a Rosa com 2 dedos no carro, virando os olhos pra fazer de conta que estava fazendo força. E os tios esperando a gente chegar, sem saber o perrengue, pois na Fazenda não tinha chovido. Boas lembranças. Hoje já não sei se teria o mesmo pique, mas foi tudo muito bom.
    Beijinhos de Bom Ano Novo proceis!!!

    ResponderExcluir
  5. Fe,
    Essa é impagável. Alias a Rosa é um dos seres humanos mais curiosos que conheci.
    Valeu pra caramba
    beijos
    wania

    ResponderExcluir
  6. Uma bela história..como tantas que vejo por aqui..
    Sabe que chega a dar saudade e nem vivi isso??
    deve ser pela maneira que foi contada..perfeita.
    Beijos a esta familia.

    ResponderExcluir
  7. Tia Olga sempre foi e sera uma valente!! Tem outra lembrança: Queríamos ir na matine do carnaval no clube e ela nos levou de Kombi! A ponte estava tortinha de tanta chuva e ela falava: " eu nao vou conseguir..., ai meu Deus, nao vamos passar..., segura firme...
    Firme estava ela na direcao, com umas 4-5 criancas sob sua responsabilidade!
    Creio que na volta foi o perrengue narrada pela Fer!
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Foi realmente uma época maravilhosa, o prazer de descer a estrada para ver os amigos não era maior do que a de voltar para fazenda debaixo de chuva e ter que subir levando o carro nos braços, se houvesse um comentário baseado numa piada do Chico Anísio ele diria, “tudo bem que a gente queria ir ao Baile, mas precisava convidar o carro? Não dava outra, chegávamos, na fazenda mais põe cansaço e barro nisso, não importava o luxo da beca, não posso esquecer uma das empurradas de Kombi que fizemos, no auge da maior força que eu fazia, olhei para o lado e vi o Alfredo chegando vestido somente com uma Cueca branca LUA, segundo ele era para não sujar o traje, se posicionando para empurrar, não tive como controlar a risada e o pouco de força que restava foi literalmente pro brejo. Grandes noites naquela serrinha. Beijos.

    ResponderExcluir