Este é um blog de memórias de nossa família. Não disse nada que ninguém já não saiba. Mas lendo nossas correspondências "internas", me deparei com um diálogo interessante entre o Super Wander e a querida Eliane, sobre essa palavra deveras sui generis : pacová. Dei ligeiramente uma olhada para ver o verdadeiro significado e me deparei com uma ideia sobre essas palavras que nós, os mais antigos, sabemos e que a safra nova, não tem ideia do que se trata. Bem, posto isto, aí vai a definição que rapidamente e sem nenhum aprofundamento encontrei :
Saco feito para encher. ex : " -Tá enchendo os pacová. "
Planta medicinal usada para tratamentos digestivos e estomacais e como cicatrizante. Nome científico: Renealmia exaltata L. f. Ex: " Faça um chá de pacová para o rapaz que está com gases!"
A principal utilidade da mundialmente conhecida Escova de Dentes.
"Imagine o caboclo lá do interiorzão dos Confundé-dos-Judas debruçado sobre a pia, com a pasta de dentes em uma das mãos e a escova na outra. Aí você pergunta, para ver se ele está ligado: Para que serve mesmo esse treco que você está pondo e tirando da boca?Ele responde de prontidão: Pacová us denti, oras bolas!!!"
Acho que essa última é a nossa verdadeira tradução. A tradução "mineira" sempre é a certa, gente!!! Todos nós sabemos que mineiro é um "bicho" danado de inteligente. Tanto que ele, por possuir tanta inteligência, fez um vocabulário próprio para poder abreviar a quantidade de palavras que é capaz de assimilar. E para caber "tudim" dentro da cabeça, come algumas sílabas.
Portando fica aí a tradução da palavra tanto usada por nós. Pacová!!
Aproveitando o ensejo mando algumas gírias muito usadas por nós, na nossa época, que sei que muitos de vocês não conhecem. Tata também é cultura, tá??? Inútil, mas não deixa de ser cultura!
Bacana - Algo legal ou alguém gente boa. Pode ser também alguém esnobe, no sentido "metido a bacana".
Cafundéu do Judas ou cafundó do Judas - Muito longe. Semelhante a: "Onde Judas Perdeu As Botas", "Onde O Vento Faz A Curva"Lá pros Cafundó - Muito longe, distante.
Dindin - Dinheiro, grana. Usava-se também: "Tutú", "Prata", "Conto de Réis", "Conto", Réis".
Ora bolas - Algo como "ora pois". Usado quando algo inusitado acontece.
Tempo da onça - Algo antigo.
Patavinas - Nada. O mesmo que "Porcaria nenhuma", "Bolhufas alguma", "Nadica de nada", "Necas de Pitibiriba"
Broto - Menino(a) novo(a) ou menino(a) bonito(a).Belezura - Algo ou alguém muito bonito. Usava-se para referir-se a uma mulher formosa.
Beleza pura - Algo muito bom de se ter ou se ver.
Tirar as barbas de molho - Mover-se. Dito para alguém que está há muito tempo parado.
Botar as barbas de molho - Sossegar, parar definitivamente, aposentar-se, preparar-se para o que irá acontecer.
Dedéu - Utilizado como adjunto adverbial de intensidade em conjunto com o adjunto adverbial "bom", como na expressão: "bom pra dedéu".
Serelepe - Alguém agitado, safado, perspicaz, esperto.
Caramba! - Expressão de espanto ou surpresa, no mesmo sentido de "Poxa vida!". Usa-se também "Carácoles!" ou "Caracas!" - ainda é usada hoje em dia.
Matar cachorro a grito - Fazer algo inacreditável, aterrorizar. Estar no fim da "picada"
Está Tinindo - Noção de intensidade. Algo como "está brilhando", "está limpinho".
Na capa da gaita - Cheio de coisas para fazer. O mesmo que "Com a corda no pescoço" e "Atolado até o S".
Estapafúrdio - Algo bizarro, esquisito.
Amigo da onça - Traidor. Pessoa ao qual se dá confiança e que, cedo ou tarde, por algum motivo de interesse pessoal, te apunhala de certa forma por trás.
Parada dura - Algo difícil de se realizar.
Está pensando que berimbau é gaita? - O mesmo que falar: "Ficou louco?"
Chorumelas - Choro desnecessário, inventado; frescura.
Fedelho - Criança, pessoa infantil, pentelho.
Arrebentar a boca do balão - Fazer escarcéu, barulho; chamar a atenção.
Passar a Batata Quente - Livrar-se de um problema, fazendo com que outro o assuma.
Batata - Algo fácil. Por exemplo: "Andar de bicicleta é batata". Também pode ser utilizada para sugerir que uma coisa "é certa". Por exemplo: "Proceda desse modo e é batata: você conseguirá o que quer!".
Será o Benedito? - O mesmo que "Será possível?" ( muito usado por nós, da família )
Macacos me mordam! - Expressão de espanto diante de algo inacreditável. Bordão do personagem "Popeye".
Pela Madrugada! - O mesmo que "Pelo Amor de Deus!"
Supimpa - Algo bom, legal.
Toró - Tempestade, chuva forte. Usado na expressão: "Vai cair um toró!"
Fidumégua ou fidumaégua - (vulgar) "Filho de uma égua". Utilizada para xingar uma pessoa ofendendo-lhe a mãe. O mesmo que "FDP". Vocábulo de origem nordestina.
Patota - Turma de amigos.
É de lascar - Situação complicada.
Sem choro e nem vela - Expressão usada como negação a um pedido ou também para incentivar ou animar alguém diante de uma situação adversa.
Trinques - Usado na expressão: "manter tudo nos trinques", para designar "manter tudo nos devidos conformes."
Trumbicar - Usado na expressão: "quem não se comunica se trumbica (ou instrumbica)". Significa "Dar-se muito mal".
Xispa - O mesmo que "Sai fora". Usado na expressão: "Xispa já daqui", para designar a expulsão de um lugar ou o afastamento de algo ou alguém inconveniente por perto.
Bem.... depois deste ultimo, acho que nada mais óbvio do que eu devo fazer agora: XISPAR.
Tem muitos outros que usávamos, mas acho que hoje está de bom tamanho... Muitos irão achar cansativo, outros nem lerão... mas fica aí como uma biblioteca, pois quando vocês, meninos, lerem algo no gênero, venham aqui e peguem a tradução.
Nós, os da primeira safra, usamos muitas palavras que não são entendidas pelos mais novos. Então fica aí, o que resultou de um simples " pacová ".
Katya,
ResponderExcluirVocê escreve gostoso, menina! Adorei ler seu post. Mil beijos!
QUERIDA KATYA!
ResponderExcluirADOREI SUAS DEFINIÇÕES,
HOJE MESMO FOI UMA MOÇA NA LOJA COM UMA ECHARPE SULFERINO.
BEM! ELA ME PERGUNTOU, OQ/ É SULFERINO?
SULFERINO É UM TOM DE COR USADO POR MINHA MÃE NO SÉCULO PASSADO. E DISSE A ELA Q/ ESSA ERA UMA COR DADA HOJE PARA O PINK MAIS FORTE.
ADORO ESSA PALAVRA SULFERINO.
TEM TAMBÉM AQUELA EXPRESSÃO " AGORA INES É MORTA OU MARTA", SEI LÁ, MAS Q/ AO PÉ DA LETRA QUER DIZER Q/ IMA SITUAÇÃO JÁ ACONTECEU E NÃO TEM MAIS JEITO.
ESTOU COM SAUDADES DOS DIAS PASSADOS AI EM SUA LINDA CASA.
BEIJINHOS!
Renata amada,
ResponderExcluirVocê agora me fez lembrar do vestido das Bodas de Ouro da vovó. Tinha que ser "azul pervanche"!
Na época, eu ficava me perguntando porque as pessoas davam nomes as cores dessa maneira e que raios era o "pervanche". Se voc~e me perguntar que cor é esta hoje, eu direi para você : - Pervanche, uai??? O azul do vestido das Bodas da vovó.
E te conto mais, ela usou o vestido azul que ela queria e ficou lindo!!!!!!!!
Se na época, as fotos tinham cor, há que ter alguém que tenha essa cor para mostrar.
Volte Renata, a Bahia ficou triste sem a presença da minha família! Beijos no Teteu!
Eloina,
ResponderExcluirObrigada por suas palavras. Isto só nos faz sentir que estamos no caminho certo. Elogios nos fazem crescer sempre.
Beijos Prima.
Eu também gostei muito do post. Quando pensamos na quantidade de vocabulário aprendido por nós ao longo dessa vida familiar ficamos boquiabertos. Legal, Tatinha!
ResponderExcluirHoje passei o dia rondando o PC mas a cada instante foi uma surpresa. Estamos desde ontem com três hóspedes repentinos e iso tumultuou a nossa vida um tiquinho. São bem exóticos, Katya.Mas já estamos nos acostumamos. É como vovô dizia: hósprdes em minha casa é só no primeiro dia...
Querida Tata
ResponderExcluirO super(ENCHEDOR DE PACOVA)é por sua conta, pois o gostoso é esta troca de tudo, gentilezas, carinhos,broncas,silencio, informação, humor, noticia, e sobre tudo poder retribuir nem que seja um pouquinho a sensação de sentirmos uns aos outros.
Esta senação só é possivel quando se tem uma FAMILIA seja ela como for, ou na hora que for.
Como fez a Flavia acender o fogão à lenha, cabe a todos nós colocar um pauzinhoe dar uma assopradinha.
SER MINEIRO
"Ser mineiro é não dizer o
que faz , nem o que vai fazer ,
é fingir que não sabe aquilo
que sabe , é falar pouco e
escutar muito , é passar por
bobo e ser inteligente , é
vender queijos e possuir
bancos .
Um bom mineiro não laça
boi com imbira , não dá
rasteira no vento , não pisa
no escuro , não anda no
molhado , não estica
conversa com estranhos , só
acredita na fumaça quando
vê fogo , só arrisca quando
tem certeza , não troca um
pássaro na mão por
dois voando .
Ser mineiro é dizer "uai" ,
é ser diferente , é ter marca
registrada , é ter história .
Ser mineiro é ter
simplicidade e pureza ,
humildade e modéstia ,
coragem e bravura ,
fidalguia e elegância .
Ser mineiro é ver o nascer
do sol e o brilhar da lua ,
é ouvir o cantar dos pássaros
e o mugir do gado , é sentir
o despertar do tempo e o
amanhecer da vida . Ser
mineiro é ser religioso e
conservador , é cultivar as
letras e artes é ser poeta e
literato , é gostar de política ,
é amar a liberdade , é viver nas
montanhas , é ter a vida interior ,
é ser gente " .
Fernando Sabino
Flávia na sua sapiência, sabe que fogão de lenha não pode ficar sem combustível... sempre é necessário alimentá-lo, pois o bule de café tem que estar sempre quente, em casa de mineiro, sempre tem hóspedes que se tornam "de casa" na primeira hora, né Wania amada???? Isto só acontece em casa de mineiro... Essa crônica de Sabino, traduz exatamente o que é ser mineiro. Tem também uma outra de CLarice, que faz uma pequena referência ao que é ser mineiro, Wander querido. Veja se na sua totalidade, ela não quer mesmo se referir ao verdadeiro mineiro :
ResponderExcluirDas Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Essa crônica é cara de mineiro, né? Wander!! Veja se concorda comigo. Saudades "meu Rei" de uma MINEIRA com letras garrafais!
Tatinha minha querida MINEIRA garrafal, praticamente uma Dini.
ResponderExcluirSe eu não concordar nem com vc minha Dini, nem com o Fernando e nem com a Clarice, vou concordar com quem?
Adorei, um beijo bem grande e bem estalado.
Como por aqui se considera a tds, segue uma de um pernambucano nascido em Recife o Sr. Osvaldo Lenine Macedo Pimentel,que para mim e uma bula de vida.
Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Se pediu, agüenta...
Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, melhora...
Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite...
Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
Use sua chance...
Se tá puto, quebre
Ta feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre...
Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure...
Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele...
Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta
Não se submeta...
Lenine/Ivan Santos
SIMPLES ASSIM
Wander amado,
ResponderExcluirPerdoe aí a minha imensa ignorância, mas o que quer dizer mesmo "Dini" ?? Sei que deve ser coisa boa... Tomara.
O bicho curioso é mulher!!!!!
A propósito, uma verdadeira bula de vida! Principalmente as duas ultimas frases!!!!!
QUERIDA kATYA!
ResponderExcluirCOMO É BOM SER MINEIRA!
MORO AQUI EM CAMPOS A 46 ANOS, MAS SEMPRE DIGO, EU SOU MINEIRA.
ESSAS PALAVRAS LIDAS NOS COMENTÁRIOS ACIMA, ME FEZ MUITO FELIZ, POIS É EXATAMNETE ASSIM QUE ME SINTO.